O que está por trás da saída de três montadoras de carros do país

A Mercedes-Benz anunciou em dezembro o fim de sua produção no Brasil.| Foto: Pixabay
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Entre o fim de 2020 e o início de 2021, três montadoras fizeram anúncios que impactaram negativamente a indústria automobilística no Brasil: o fechamento da fábrica Mercedes-Benz, a suspensão por tempo indeterminado da produção da Audi e o fim da produção de carros da Ford, que estava no país havia 103 anos.

Incertezas em relação à economia local, dificuldades impostas pelo chamado custo Brasil e problemas de rentabilidade estão entre as explicações para a saída das multinacionais. Questões específicas também pesaram: a Audi, por exemplo, reclamava a devolução de créditos tributários acumulados no âmbito do Inovar-Auto, o programa de incentivos à indústria automobilística adotado no governo Dilma Rousseff (PT).

O impacto não se restringe só às unidades da Ford (em Camaçari, na Bahia, Horizonte, no Ceará, e Taubaté, em São Paulo), da Mercedes-Benz (em Iracemapólis, São Paulo), e da Audi (em São José dos Pinhais, Paraná). Deve ter impacto sobre a cadeia de fornecedores e concessionárias.

Só na Ford, a estimativa é de que sejam necessários US$ 4,1 bilhões para o pagamento de cerca de 5 mil funcionários demitidos, e indenizações a centenas de fabricantes de autopeças e revendedoras. Steve Armstrong, que comandou a Ford Brasil entre 2012 e 2016, foi chamado para fazer a reestruturação das operações da montadora norte-americana na América do Sul.

A unidade da Mercedes em Iracemápolis tinha 370 trabalhadores. A empresa, que tinha inaugurado a fábrica em 2016 após investir mais de R$ 600 milhões, creditou o encerramento da produção do SUV compacto GLA e o sedã médio Classe C à situação econômica difícil no Brasil por muitos anos e que se agravou com a pandemia.

“Isso causou uma queda significativa nas vendas de automóveis premium”, pontuou Jörg Burzer, membro do conselho da Mercedes-Benz em comunicado oficial emitido pela empresa em dezembro.

Fatores decisivos para as montadoras
Um dos fatores que pode ter contribuído para a decisão das três empresas está relacionado ao custo Brasil e às incertezas em relação à economia local.

“Se os resultados não são bons e as perspectivas não são favoráveis, é hora de repensar a estratégia”, diz Flávio Padovan, sócio da MRD Consulting e ex-CEO da Jaguar Land Rover.

No ano passado, segundo dados do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a participação da Ford no total de veículos licenciados foi de 7,4%. A da Audi era de 0,4% e a da Mercedes Benz, 0,3%.

“A decisão também tem a ver com a estratégia internacional das empresas”, destaca o líder de industrial markets e setor automotivo da KPMG no Brasil, Ricardo Bacellar.

Padovan destaca que sem condições que garantam a competitividade das empresas e diante de resultados negativos, fica complicado investir na modernização das fábricas. “O Brasil tem uma grande capacidade instalada e uma grande ociosidade”, explica.

A Ford, segundo ele, optou por focar em produtos e mercados onde está ganhando dinheiro. A Audi e a Mercedes, que atuam no mercado de veículos premium, também foram afetadas pela instabilidade cambial, devido à grande importação de componentes. “Isto dificultou que elas fossem competitivas”, afirma Padovan.

A intenção de muitas montadoras era de usar o país como uma plataforma de exportação, o que não se confirmou. “O Brasil não fez investimentos na abertura dos portos, faltam condições de competitividade e há exportação de resíduos tributários”, diz Bacellar.

Segundo ele, o caminho para o Brasil passa pela massificação de políticas consistentes de exportação, ter uma boa estrutura cambial e tributária. Também é necessário rever o custo de mão de obra no país, que é elevado.

Padovan destaca que falta uma política industrial consistente para o país. As últimas medidas para o setor automotivo, como o Inovar-Auto e o Rota 2030, este ainda em vigor, tinham metas ousadas e praticamente inatingíveis, ressalta o consultor. “E, no caso do Inovar-Auto, forçava as empresas a investir no Brasil.”

ACESSE AQUI GAZETA DO POVO

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