OBrasil se encontra na zona vermelha do Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2021, divulgado pela Repórter sem Fronteiras (RSF). Entre 180 países, o país está na 111ª posição. Caiu quatro pontos em relação ao ano passado e se situa ao lado de Nicarágua, Afeganistão, Indonésia e Guatemala. Como uma democracia como a brasileira chegou nesse ponto de fragilidade?
“O trabalho da imprensa se tornou especialmente complexo depois de Jair Bolsonaro eleito. Ele, seus filhos que ocupam cargos eletivos e aliados do governo insultam e difamam jornalistas quase todos os dias. É um sistema organizado de ataque que chega à base de militância”, analisa Emmanuel Colombié, diretor regional da RSF para a América Latina.
O diretor do The Intercept Brasil, Leandro Demori, reitera: “Basta lembrar que ele (o presidente) disse textualmente que a imprensa era o inimigo número um do Brasil.”
Em março de 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) recomendou ao governo brasileiro que Demori fosse um dos jornalistas a receber medidas protetivas após publicações de artigos que revelavam conversas entre procuradores e membros do Poder Judiciário da Operação Lava Jato. “Ninguém do governo brasileiro entrou em contato conosco”, diz Demori. Ele anda com escolta armada particular e já recebeu várias ameaças: “De mandarem foto de munição pra mim até tuitarem que eu estava num aeroporto e descreverem minha roupa.”
A jornalista Patricia Campos Mello foi alvo de ataque de cunho sexual por parte do presidente Jair Bolsonaro ao publicar reportagens sobre um esquema pago por empresários para espalhar mensagens contra o Partido dos Trabalhadores (PT) nas eleições de 2018. Em março deste ano, Bolsonaro foi condenado a indenizar a jornalista em R$20.000 por danos morais. “Isso é um sinal positivo porque mostra que no entendimento da Justiça não é normal nem permissível usar redes sociais ou falar numa transmissão ao vivo pra milhões de pessoas e caluniar um jornalista”, diz ela.
Mello recebeu o Prêmio Liberdade de Imprensa em 2019 pelo Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), o que deu visibilidade mundial à situação da imprensa brasileira. Sobre o processo, o presidente Bolsonaro recorreu. “Obviamente a gente aguarda as decisões das próximas instâncias”, pontua Mello, lembrando que, infelizmente, o judiciário ainda se vale de princípios arcaicos para julgar casos envolvendo jornalistas, como o uso da Lei de Segurança Nacional.