Bolsonaro repete caminho de Collor ao escolher Ciro Nogueira como ministro, diz Roberto Jefferson

Foto Marcello Casal Jr./ABr – 14/06/2005
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O presidente do PTBRoberto Jefferson, reprovou a escolha do senador Ciro Nogueira (Progressistas-PI) para a Casa Civil. Aliado de Jair Bolsonaro, o ex-deputado insinuou que o presidente pode ser traído pelo novo ministro e disse que “não confiaria” em um político que apoiou o PT nas últimas eleições. Líder do Centrão, Nogueira já chegou a definir Bolsonaro como “fascista” em um passado não muito distante e, em 2018, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava preso, disse que ficaria com ele “até o fim”.

“Tem o general de confiança (Luiz Eduardo Ramos). Vai botar um civil? E um civil que o tempo todo, nos últimos 20 anos, apoiou o PT lá no Piauí”, afirmou Jefferson. “Serviu demais do lado de lá, não gostaria de ter ao meu lado.”

Roberto Jefferson
O presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson Foto: JF DIORIO/ESTADÃO

Ao lembrar a época em que foi líder da tropa de choque do então presidente Fernando Collor na Câmara, Jefferson disse haver semelhanças entre aquele período e o atual. O presidente do PTB comparou a escolha de Nogueira para a Casa Civil com o que viveu Collor meses antes de renunciar para não sofrer impeachment, em 1992, quando, logo no início daquele ano, nomeou Jorge Bornhausen, do PFL, para a recém-criada Secretaria de Governo.

“Quando o presidente (Collor) abriu os olhos, toda a liderança junto ao Congresso Nacional era do Bornhausen. Não era dele”, afirmou o ex-deputado. Delator do mensalão no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jefferson teve o mandato cassado em 2005.

Agora, ele quer ver Bolsonaro concorrendo ao segundo mandato pelo PTB. Se não for possível, deseja filiar o candidato a vice-presidente. Como exemplo de vice, Jefferson citou o ministro da Defesa, Walter Braga Netto. Na semana passada, o Estadão revelou que o general ameaçou a realização das eleições de 2022, caso o Congresso não aprove o voto impresso. Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Como o senhor vê a entrada de Ciro Nogueira no governo?

Eu não tiraria o general Ramos (da Casa Civil). Ainda mais um homem de força especial. Temo que o Ciro possa representar para o presidente o que foi o Bornhausen para o Collor. Bornhausen não foi um homem correto para o Collor e eu temo que o Ciro possa não ser correto com o presidente Bolsonaro. Eu não mexeria. Tem o general de confiança. Vai botar um civil? E um civil que o tempo todo, nos últimos 20 anos, apoiou o PT lá no Piauí. Com todo respeito que tenho ao Ciro, eu não confiaria nele.

Por quê?

Serviu demais do lado de lá, não gostaria de ter ao meu lado. Lembro ao presidente Bolsonaro do episódio do Bornhausen com o Collor. Quando o presidente (Collor) abriu os olhos, toda a liderança junto ao Congresso Nacional era do Bornhausen. Não era dele.

Há chances de o presidente Bolsonaro se filiar ao PTB?

O PTB está aberto para a vinda dele. Se ele quiser vir, será uma honra. Ele não me deu nenhuma palavra, não falou nada. Não sei qual caminho vai seguir. Mesmo que ele não venha para o PTB, terá nosso apoio. Isso nós já decidimos: vamos apoiá-lo no partido que ele estiver. É o nosso candidato à reeleição.

Até 2018 o PTB teve muita influência no antigo Ministério do Trabalho. O partido poderia ter hoje mais espaço no governo?

O PTB não tem espaço nenhum e nem eu estou pedindo. Estou apostando no principal, não no acessório. Vamos esperar o passo do presidente. Prefiro ter o presidente a um ministro qualquer. Queria que o presidente viesse para o PTB.

Quem seria o melhor nome para vice de Bolsonaro, em 2022?

Eu torço para que ele faça o general Braga (Netto) o vice. Ele precisa de um general na vice. É um homem firme, correto, bom caráter, amigo dele. Os políticos não têm a lealdade dos militares. O Temer conspirou contra a Dilma; o Itamar conspirou contra o Collor. Vai botar um político civil ali? Primeiro, é mal visto. Todo político civil é mal visto pela opinião pública. A instituição mais respeitada no Brasil pelo povo é a das Forças Armadas. Deu certo já na primeira eleição, o capitão e o general.

Mas o presidente vive reclamando do vice Hamilton Mourão. Disse até que ele “atrapalha um pouco”, mas tem de aturá-lo, como um cunhado que não se pode mandar embora.

Pode até discutir, mas o Mourão não conspira contra ele. É diferente dos vices civis que conheci, tirando o Marco Maciel, que em momento algum teve como objetivo desestabilizar o Fernando Henrique. Foi um vice correto, humilde, desempenhando o papel dele. Os outros eu vi conspirando contra o presidente. O general Mourão não conspira contra o governo. Pelo contrário, ele dá até entrevistas apoiando o presidente.

Então, o sr. pretende filiar o ministro Braga Netto ao PTB?

Se o presidente resolver ir para outro partido e botar na vice o general Braga Netto, será uma honra para nós. Se o presidente disser “Ele vai para o PTB para a gente fazer a coligação”, vai ser um orgulho para mim

O presidente erra ao não vetar integralmente o aumento do fundo eleitoral? Mesmo dizendo que vai reduzir esse reajuste, o fundo vai dobrar, passando de  R$ 2 bilhões para R$ 4 bilhões.

Se ele vai reajustar, vai reduzir. Ficou um excesso, R$ 6 bilhões. O presidente deve encontrar um valor ajustado que fique bem para o eleitorado dele para não cometer nenhuma injustiça contra o povo brasileiro. E R$ 6 bilhões é uma violência, um acinte ao povo.

Lauriberto Pompeu / BRASÍLIA, O Estado de S.Paulo

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